MULHER VANGUARDA

Ontem, nos meandros da noite primitiva,
A vagar na insegurança dos espaços,
A mulher foi retaguarda.
Nas florestas, cavernas e palafitas,
O homem caçador
Hauria nos olhos e regaço da mulher,
A força da sua sobrevivência.
Ainda ontem,
Observando a lição das sementes,
A mulher desdobrou-se no amanho da terra,
Criando a agricultura,
A pecuária,
E concentrou ao pé de si, homens e animais.
Foi paiol,
Aconchego nos dias de suor,
Mesa cheia nas horas de repouso,
Bálsamo nas lutas e cicatrizes,
Mãe, esposa, filha e irmã do homem patriarca,
Chefe de clã.
Nessa hora, a mulher abriu caminho ao companheirismo e à civilização.
As cidades se ergueram por toda parte
E com elas cresceu a arrogância masculina,
Do retinir das armas dos fortes
Sobrevindo a escravidão dos fracos.
Surgiram os dominadores,
Cézares e mecenas, com seus gládios e seu dinheiro.
A mulher foi serva e objeto.
Idolatrada nos templos,
Mas imolada pela supremacia masculina.
Divinizada em palavras e canções pelos poetas e menestréis,
Na realidade, simples serviçal,
Instrumento de trabalho e prazer.
Mesmo reduzida à sombra ao longo dos milênios,
Engravidou energias,
Acumulou experiências
E com suas mãos tranquilas e confiantes
Rasgou as nuvens da hipocrisia.
Derrubou altares,
Arrasou senzalas,
Semeou esperanças.
A mulher foi Eva e foi Diana,
Foi Lia e foi Raquel,
Foi Minerva e foi Judite,
Foi Maria.
Sempre a ajuda decisiva,
A ternura restauradora,
O incentivo eficaz.
Hoje, sopra o vento irresistível,
O vento reconstrutor da igualdade,
E a nova mulher floresce com seu espaço assegurado.
A mulher é vanguarda na comunidade,
Nos sindicatos, nos partidos,
Em todas as tribunas e trincheiras,
Ao lado do pai, do companheiro,
Do irmão e do filho.
Mulher ação,
Mulher liberdade,
Mulher equidade,
Mulher cidadã.

Maria Dorneles,
poetisa de Porto Alegre, RS.

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