OCUPAÇÃO CHICO SCIENCE

por Alexandre Maciel

A partir desta quinta-feira acontece, no Itaú Cultural, a Ocupação Chico Science. Com exposições de arquivos pessoais, bate-papos, depoimentos de pessoas próximas, culminando em shows do Mundo Livre S/A, Coletivo Instituto e Bomba do Hemetério. O evento pretende, até 4 de abril, mostrar toda a tragetória de um dos maiores nomes do chamado “manguebeat”, movimento que revolucionou o cenario musical pernambucano.

Só para lembrar um pouco, Francisco de Assis França, ou Chico Science, que já formava a banda Loustal (referência a Jacques de Loustal, ótimo cartunista francês) que tinha influencias do soul e hip hop se uniu, em 1991, ao bloco de percussão Lamento Negro, formando assim o Loustal & Lamento Negro, que pouco tempo depois viria a se chamar, Chico Science e Nação Zumbi.

Chico foi quem inventou o termo manguebeat, som que alia rock, hip hop, música eletrônica ao já tradicional maracatu pernambucano. Fred Zero Quatro (Mundo Livre S/A), redigiu o texto conhecido como Manifesto do Mangue, “Caranguejos Com Cérebro” . Desde então, o Brasil nunca mais viu Pernambuco com os mesmos olhos.

O movimento chamava atenção para fatos até então pouco conhecidos, como a degradação dos manguezais, fonte de sobrevivência de diversas espécies e consequentemente, de muitas famílias que vivem do seu comercio. Além de provar que é possível fundir a belíssima cultura nordestina a novos elementos, sem deixar de estar “antenado” a novas tendências. Daí o símbolo manguebeat ser uma uma antena parabólica enfiada na lama.

Chico Science e Nação Zumbi, assim como Mundo Livre S/A, não foram apenas bandas precursoras de uma nova vertente sonora, mas sim, personagens realmente importantes de questões sociais, já que trouxeram à tona questões pouco discutidas e deram mais visibilidade para o estado de Pernambuco.


A Cidade
– Chico Science e Nação Zumbi
!: se estiver na página inicial, clique aqui para assistir corretamente.


Ocupação Chico Science

Grátis

Exposição
04/02 a 04/04
Shows
Coletivo Instituto – 01/04 . 20hs
Mundo Livre S/A e convidados – 02 e 03/04 . 20hs
Bomba do Hemetério – 04/04 . 20hs
Conversa de Mangue
28/03 . 19hs
Mangue no Cinema
25 a 28/03 . 19hs

Itaú Cultural
Av. Paulista, 149.
Fone 11 2168-1700

DEDICADO A BORIS

por Alexandre Maciel

Quem assistiu ao Jornal da Band no último dia de 2009, pôde presenciar o doce comentário que Boris Casoy fez após o telejornal veicular imagens de garis desejando felicidades aos telespectadores. O âncora, que na ocasião substituía Ricardo Boechat, diz SORRINDO:

Que merda: dois lixeiros desejando felicidades… do alto da suas vassouras…. dois lixeiros… O mais baixo na escala do trabalho.

Sem saber que o audio ainda estava sendo transmitido, Boris proferiu os dizeres em rede nacional, deixando transparecer o quão repugnante é.

Abaixo, o nauseabundo vídeo:

No dia seguinte, iniciamos a primeira noite do ano com um simples pedido de desculpa, durante o telejornal, como se o ocorrido no dia anterior fosse um caso corriqueiro. Talvez para ele seja. Ironicamente, justo ele que chegou a declarar que a “televisão” não gosta de se corrigir… a não ser quando ela é obrigada.

Em seguida, o que tivemos que ouvir…

Revoltado com as lamentaveis cenas, o rapper Daniel Garnett compôs a ótima “Isso é uma vergonha”, uma resposta dedicada ao péssimo comentário do substituto.

Isso é uma vergonha – Daniel Garnett

Ocorre que, o queridão Boris, segundo reportagem feita em 1968 pela extinta revista O Cruzeiro, é citado como integrante do chamado Comando de Caça aos Comunistas (CCC), uma organização direitista que, durante o período da Ditadura Militar, se orgulhava de agir em favor do regime, denunciando e atacando violentamente atividades e pessoas contrárias ao governo.

Entre os feitos “mais famosos” do comando, estão a invasão ao Teatro Ruth Escobar, onde massacraram o elenco do espetáculo Roda Viva, de Chico Buarque e o ataque a antiga Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o conhecido “Conflito da Rua Maria Antônia“. Este segundo, de acordo com a matéria da revista, teria o envolvimento de Casoy. Segue:

“Boris Cazoy ou  Kassoy estuda Direito. Locutor da Rádio Eldorado. Conclamou os alunos do Mackenzie a tomar a USP, de cuja invasão participou. Anda armado mas, segundo os colegas, é incapaz de atirar em alguém. Mora na Rua Itapeva. Acham-no mole com os comunistas.”

Abaixo, seguem as páginas. Vale uma leitura:
Texto: Pedro Medeiros
Fotos: Manoel Motta
Scans: Cloaca News

“ISSO É UMA VERGONHA!”

BOA MERDA

por Alexandre Maciel

No próximo dia 30 estreará a nova programação do Bar do Dito. O bar, do Grupo Teatral Amado do Dito, já promovia saraus a um certo tempo, porém, a partir deste sábado passará a incluir em sua programação intervenções de meia em meia hora, iniciando às 21hs com “1º ato – Boa Merda”.

O Grupo, que tem como diretor Alan Pires, existe desde 1996, quando ainda se encontravam no próprio colégio de ensino fundamental, Máximo de Moura Santos, na zona norte paulistana. Hoje – após vários espetáculos já montados e outros em cartaz atualmente – estão localizados na r. Correia Dias, 161 (próx. ao Metrô Paraiso), e contam com o Espaço Cultural Amado do Dito, aonde acontece vários cursos de teatro, circo, dança, música, tv e cinema, entre outros.

Na nova programação do bar, que incluem 3 atos, ocorrerão desde apresentações com os atores à participação dos próprios clientes. Estão previstas atrações que envolvem teatro, música, poesia e até criações com giz de cera.

Segundo Alan, a proposta é unir o clima de amizade que já havia antes, com novas possibilidades de diversão, proporcionando assim, uma nova opção para as noites de sábado.


Bar do Dito

r. Correia Dias, 161 (próx. ao Metrô Paraiso)
Informações: 5083-2218
http://www.espacoculturalamadododito.com.br/
R$ 10,00 entrada ou R$ 10,00 de consumação com a senha “Boa Merda” – deverá ser escrita atrás da comanda na entrada do bar (válida somente para este sábado).

1º ato
21h00 – Boa merda
21h30 – 3º sinal (Seja bem vindo)
22h00 – Ritual do amor
22h30 – A farra do giz

2º ato
23h00 – Violão no cantão
23h30 – Máquina
00h00 – Camarim
00h30 – A senha / Brinde do Amado

3º ato
01h00 – Estreia agora e termina hoje
01h30 – Microfone aberto a boca santa da cultura
02h00 – Aqui garçom é no palco
03h00 – Holofote desligado

LIU BOLIN, O INVISÍVEL

por Alexandre Maciel

Há mais ou menos um mês, recebi um e-mail do meu tio com fotos impressionantes de um artista que se pintava de forma a ficar quase invisível. Porém, apenas ontem é que, fuçando na minha caixa de entrada, localizei novamente o recebido e pesquisei mais informações.

Liu Bolin, 36 anos, nascido em Shandong (China), Mestre pela Sculpture Department of Central Academy of Fine Arts, é um artista que cria camuflagens incríveis, ficando quase imperceptível. São vários os lugares utilizados pelo chamado “homem invisível”. Desde simples paredes, passando pela bandeira da República Popular da China, até escombros do terremoto que abalou Sichuan em Maio de 2008.

O artista diz que seu trabalho é um silencioso protesto contra a perseguição do governo a artistas chineses. Em entrevista ao jornal Daily Mail, em Julho do ano passado, conta que ficou ainda mais motivado com o seu trabalho quando as autoridades chinesas fecharam seu estúdio de arte em Pequim, em 2005.

Assim como Liu, outros artistas, como Emma Hack e Desiree Palmen, já fizeram trabalhos equivalentes, porém o artista chinês surpreende pela expressividade de seu protesto.

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No mundo material real, as visões de mundo de pessoas diferentes também são diferentes. Cada pessoa escolhe o seu caminho próprio no processo de contato com o mundo exterior. Eu escolho fundir-me no meio ambiente.

Liu Bolin

456 ANOS DEPOIS…

por Alexandre Maciel

Acordo, olho pela janela… chuva. Não para. Sem massagem. Tinha Milton hoje no Parque da Independência. O Vale do Anhangabaú também teve umas atrações legais; Paula Lima, Leci. Porém, com essa chuva não rola. Não que eu seja de açucar, mas não suporto chuva.

Enquanto comemorações acontecem pelos pontos centrais da cidade (ou pelo menos deveriam ter acontecido, ainda não sei como foi), uma grande parcela da periferia está muito ocupada com a água que invade suas casas, se ela ainda estiver em pé, é claro. Os grandes jornais, na maior parte do tempo, imputam somente as mudanças climáticas como sendo responsáveis pelos desastres que acontecem. A população, leiga e carente de informações que lhe abra os olhos, como manda o figurino, apenas repete o que assiste e lê.

Há cerca de duas décadas as mudanças já são anunciadas, o governo tem acesso a todos os tipos de estatísticas. O que se vê não é apenas descaso, é total irresponsabilidade. Desde o loteamento, a décadas atrás, de áreas de várzeas, até ocupações ilegais em locais de risco por falta de condições de morar em lugar melhor. Afinal, ninguém constrói um barraco em uma encosta de morro e tem um córrego como paisagem, só para ficar mais em contato com a natureza. Como culpar a população pelo crescimento desordenado se a expansão de uma cidade é resultado de sua política econômica? O povo nunca fez parte da ciranda dos interesses financeiros.

Apesar dos raros motivos para comemorar, São Paulo ainda é paixão para muitas pessoas. Vários rostos. Vários gostos. O Centro que se esconde sob a sujeira, e que muitos nem percebem em sua pressa para chegar ao trabalho, ou na correria para voltar para casa, ainda me enfeitiça. Desde os antigos Alcatraz e Madame Satã ao atual Sarajevo, teatros da Roosevelt, botecos com sarau e baladas GLS. A noite continua variada, violenta, linda e intensa.

E a chuva não para.

Foto: Alexandre Maciel